Kim Jong-un ordena que militares “se preparem para a guerra”
O líder norte-coreano, Kim Jong-un, demitiu seu principal general em meio a um abalo na liderança militar do país e quer que seu exército "se prepare para uma guerra"
O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, destituiu seu principal general em meio a uma turbulência na liderança militar do país, revelou a mídia estatal nesta quinta-feira.
O general Pak Su Il foi demitido de seu cargo como chefe do Estado-Maior, e o vice-marechal Ri Yong Gil foi designado para substituí-lo, conforme a agência estatal de notícias da Coreia do Norte, a Central News Agency (KCNA).
Durante uma reunião da Comissão Militar Central na quarta-feira, outros “comandantes principais” também foram destituídos, transferidos ou nomeados, conforme relatado pela KCNA, embora sem entrar em detalhes.
A Coreia do Norte costuma realizar mudanças em sua liderança militar de maneira regular. Alguns líderes militares reaparecem mais tarde em diferentes posições, enquanto outros desaparecem da esfera pública.
A trajetória do novo general Ri, que assumiu a posição de segundo na hierarquia militar norte-coreana em 31 de dezembro, reflete essa dinâmica, de acordo com analistas.
“Ri Yong Gil é um membro de longa data da elite militar da Coreia do Norte, que passou por altos e baixos em sua carreira antes de chegar ao topo. Há sete anos, havia até rumores de que ele havia sido executado após uma reorganização de pessoal”, afirmou Leif-Eric Easley, professor de estudos internacionais da Universidade Ewha Womans, em Seul.
Cheong Seong-chang, analista sênior do think tank privado Sejong Institute, próximo a Seul, observou que pode haver várias razões por trás das mudanças militares de Kim e que nem sempre se trata de punição.
“Como Kim Jong-un frequentemente promove, rebaixa e demite líderes de acordo com sua capacidade de desempenho, as demissões podem estar relacionadas com a responsabilização, mas não é apropriado considerá-las como punição”, explicou Cheong.
Easley sugeriu que o líder norte-coreano pode estar buscando assegurar que nenhum subordinado seu ganhe poder excessivo.
“Kim Jong-un frequentemente alterna os cargos de liderança abaixo dele para evitar o surgimento, na Coreia do Norte, de figuras semelhantes a Yevgeny Prigozhin, fundador do Grupo Wagner, que desafiou a autoridade do presidente russo Vladimir Putin ao acumular controle pessoal sobre ativos financeiros e lealdade entre as forças armadas”, observou Easley.
“Grave situação militar”
As alterações na liderança militar foram mencionadas apenas brevemente no relatório da KCNA, que concentrou-se principalmente no desejo de preparar o exército “para a guerra”, em meio à situação política e militar tensa na Península Coreana.
Embora a Coreia do Sul e seu principal aliado, os Estados Unidos, não tenham sido mencionados nominalmente no relatório, parece claro que o relatório se refere a eles de forma indireta. O relatório afirmou que a reunião “analisou os movimentos militares dos principais responsáveis pela deterioração da situação” na península.
O principal ponto de discussão da reunião foi a “preparação completa para a guerra”, segundo o relatório da KCNA.
“A situação atual, na qual as forças hostis estão tornando seu confronto militar imprudente com a RPDC [República Popular Democrática da Coreia] cada vez mais evidente, exige que as forças armadas da RPDC estejam mais determinadas, proativas e completamente prontas para uma guerra”, afirmou o relatório.
Neste verão, a Coreia do Norte aumentou sua retórica militar, ameaçando abater aviões de reconhecimento dos EUA e reagindo ao chamado de um submarino de mísseis balísticos com capacidade nuclear dos EUA para a Coreia do Sul, o que não ocorria há quatro décadas.
Além disso, Pyongyang demonstrou avanços em sua tecnologia de mísseis balísticos, testando no mês passado um míssil balístico intercontinental Hwasong-18 (ICBM) com um tempo de voo que sugere a capacidade de atingir o continente americano.
Esse armamento foi um dos destaques do desfile norte-coreano no “Dia da Vitória”, celebrando os 70 anos do armistício que pôs fim aos combates na Guerra da Coreia. Vale lembrar que, tecnicamente, as duas Coreias continuam em guerra, uma vez que não foi assinado um tratado formal de paz.
Na reunião em Pyongyang nesta quarta-feira, Kim ordenou exercícios militares envolvendo as armas mais recentes do país.
Na semana passada, Kim visitou fábricas de armas e munições e ofereceu “orientações importantes” sobre a “capacitação para a produção em série de novas munições”, segundo a KCNA.
Em resposta à tensão na península, a Coreia do Sul anunciou que realizará um exercício de defesa civil em todo o país em 23 de agosto. A maioria dos 51 milhões de habitantes praticará a evacuação para abrigos ou espaços seguros subterrâneos durante o exercício de 20 minutos, uma reação a “provocações” de Pyongyang.