
WASHINGTON, 20 de maio — Wendy Ortiz, uma imigrante salvadorenha de 32 anos, foi multada em US$ 1,8 milhão (cerca de R$ 9,2 milhões) por permanecer ilegalmente nos Estados Unidos, conforme política implementada pela administração do presidente Donald Trump. Ortiz, que trabalha por US$ 13 por hora em um frigorífico na Pensilvânia, ficou chocada ao receber a notificação. “Não é justo”, declarou. “De onde alguém vai tirar tanto dinheiro?”
A medida faz parte de uma ação recente do governo Trump que enviou notificações a aproximadamente 4.500 imigrantes com multas que, no total, superam US$ 500 milhões. As penalidades variam de alguns milhares de dólares até o valor máximo, como no caso de Ortiz. Os destinatários têm 30 dias para pagar ou contestar formalmente as multas.
Os fatos ocorreram nas últimas semanas, como parte da intensificação das políticas migratórias de Trump, que visavam forçar a saída voluntária de imigrantes ilegais — a chamada “autodeportação”. Segundo as novas diretrizes, as multas podem ser aplicadas retroativamente por até cinco anos, com cobrança diária de US$ 998 para aqueles que não obedeceram a uma ordem final de deportação.
Ortiz vive há uma década nos Estados Unidos, para onde fugiu após sofrer violência doméstica e ameaças de gangues em El Salvador. Ela é mãe de um menino autista de seis anos, nascido nos EUA, e sustenta sozinha a família. “Ela é mãe de uma criança autista, não tem antecedentes criminais e eles têm todas as suas informações”, afirmou a advogada de Ortiz, Rosina Stambaugh. “Acho absolutamente insano.”
O episódio ocorreu em Pensilvânia, onde Ortiz trabalha e vive com o filho. O governo indicou que, além da cobrança, poderá apreender bens dos imigrantes inadimplentes, embora ainda não tenha definido como será feita essa execução.
A política se baseia em uma lei de 1996, mas que só começou a ser aplicada em 2018, durante a gestão Trump. A intenção era atingir os cerca de 1,4 milhão de migrantes com ordens de deportação já emitidas. A advogada Stambaugh revelou que já havia solicitado, em janeiro, um alívio humanitário para Ortiz, argumentando que ela enfrenta riscos em El Salvador e que seu filho não teria acesso adequado a serviços de apoio. No entanto, poucos dias depois, Trump assumiu a presidência e implementou sua rigorosa política migratória.
Advogados de imigração em todo o país relataram casos semelhantes. Robert Scott, advogado em Nova York, disse ter ficado perplexo quando uma cliente mexicana de baixa renda, que vive nos EUA há 25 anos, também recebeu uma multa de US$ 1,8 milhão. “No começo você pensa que é falso”, comentou. “Nunca vi nada parecido.”
Ainda não está claro como o governo pretende efetivamente cobrar esses valores ou executar apreensões de bens. A Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP, na sigla em inglês) está encarregada da logística, segundo fontes internas.
Em 2021, já sob o governo de Joe Biden, essas multas foram oficialmente canceladas, após críticas e questionamentos legais. No entanto, para milhares de imigrantes como Ortiz, o impacto emocional e financeiro dessas notificações permanece.